sábado, 26 de dezembro de 2009

Aurora Rural




Finos pingos de orvalho na moitinha

Sapos-bezerros choramingam no ritmo do amanhecer

Vacas debruçadas esticam beiço e dentes, preguiçosamente, para apreender a graminha úmida do pasto sonolento.

Laranjas-lima balançam-se nos galhos ao bater do vento

Joaninhas e besouros duelam afoitos, pelo topo da amendoeira – muito inquietinhos a ver o céu acordar de mansinho, todo laranja e rosa na hora do dia nascer na roça.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O Amor



Chegando com um pé atrás e o outro feliz
Calmo e sorrateiro.

Permanecendo, faz que o coração involuntariamente pulse e palpite dentro do seio meio adolescente
Enérgico e soluçante.

Consolidado, fica
vezes efêmero, vezes tardio.
O músculo inda pulsa
O seio inda palpita
O corpo sacode alegre
Enquanto dure o tal feitiço eterno; tão suave, tão rude
Tão certeiro e incerto do seu encanto.

sábado, 21 de novembro de 2009

Sentidos


Nos encontros,

Olhos e lábios se encontravam.

Se viam, se tocavam, se sentiam.
Por mais que se vissem os olhos, se tocassem os lábios, às vezes só os olhos
e não os lábios.

Os olhos,

Olhos que tocavam o corpo,

Rasgavam a carne, a roupa e de tão sedentos, a boca.

Olhos que se tocavam nos encontros e até mesmo
Sem mãos, sem toques se

Sentiam.

Nos encontros em muito querer dizer, e muita coisa, com a boca e com
os lábios... Não conseguiam.

Logo eram mãos e eram olhos.

Mãos quentes e olhos suados.

Esses sim, falam sempre; entre conselhos, brigas, promessas, alegrias e
juras.

Até mesmo na indiferença falam. Na ironia, arrogância, prepotência e
insegurança.

Mas não. Não nos encontros. Ali apenas falavam de ternura.

Afeto, vergonha... Ciúmes.

De um afeto jovem e afoito.

E ali falavam, tocavam, sentiam...

Mesmo sem boca, sem dedos, sem cores.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Devaneio


Talvez em linguagem simples
Ou em sentimentos inseguros.
Neste escrito o contive
Como espelho ou como escudo.

Há tempos que vejo passar,
Através de sombras, por entre esconderijos.
O rosto coberto e o sorriso trêmulo.
A alma, o corpo, o coração
E o vento.

Olho o céu e as estrelas,
A janela, seus olhares.
O universo em tom lilás.
Sonho ou miragem?
Tudo soa tão real e ao mesmo tempo
Tão traiçoeiro.
Sem saber o que esperar,
Experimento o doce mel
E sabor de um devaneio.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O Renascer




A cada manha que desperta no horizonte
O Sol, sempre insistente, Renasce.
Mesmo que o tenham amaldiçoado
Ou o tenham aclamado.
E ele é como o amor: vez aquece, vez queima;
O amor que noutra hora queima e aborrece
É também o sol que aquece e faz no rosto a expressão involuntária e muscular
Do gozo.


Brota no céu e ilumina a aurora
Clareia o dia como alimento à relva
Aquece e queima os amantes e os sozinhos
Surge morno e deseja o bom descanso à treva.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Alguma poesia


A melodia breve soa leve ao meu pesar...
Se passaram janeiros desde que, radiante te vi
Me levando entre os dedos como quem leva um cravo branco.

Errante, como os que dançam durante o carnaval que passa, me vejo agora
Como quem desvia os olhos para não se ver lacrimejar e sente lá, a oportunista,
Escorrendo lhe pelo desenho do nariz.

Como e quando cheguei até aqui...?
Não me recordo o exato momento em que fechei os olhos e me pus nesse sono profundo
Nesse torpor sem parar
Agora que abri meus olhos não reconheço esses rostos, o meu e o seu, mascarados de maculas e tristezas...


Deixai-me passar.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Meu Mal


O mal desse meu sorriso
É que some toda vez que não te vejo.


O mal desses meus olhos castanhos
É que mesmo molhados de lágrimas,
Insistem em buscar-te toda vez que me despeço.


O mal desses meus lábios
É que tremem e se negam a dizer-te um adeus
E me traem quando minto dizendo não querer-te mais...

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Quem Sabe Mãos-Dadas

Põe um sorriso no rosto,
Musa sublime que me define.
Nos seus visgos olhos castanhos,
No fio loiro de cabelo que pende por sobre o lábio mordido;
É onde me imagino: entre beijos ternos e breves sussurros
E através do tempo dando-te a mão.
Já tentei em outros braços, mas são em seus abraços
Que coloco todo o amor do mundo.

Não há quem melhor amar;

Não posso mais disfarçar
O colorido que inspiras
E meu notar nos seus olhos que, num piscar, me levam do frio ao fogo.

Pudera agora que um mesmo despertar lhe ocorresse
E te fizesse, nos meus braços, dormir meus sonhos.

São nesses seus olhos que quero ficar.

domingo, 25 de outubro de 2009

Um leve toque de poesia...







Dia quente, sim.
Contrário à isso o céu me parece abatido, sem fôlego.


O calor infernal faz crescente meu desespero

E as nuvens escurecem, maculando o firmamento de cinza.




Dentro de mim uma campina repleta de flores sem luz.
A Angústia me devora...
Dou-me conta: perdi um pedaço.
Olho envolta; só vejo à mobília.

Sinto o corpo amolecer de saudade.
Vazia? Confesso.
Abstinência forçada pelo destino; à sua ausência avassaladora.





Respiro seu cheiro de olhos fechados e tenho medo de abri-los e não rever, no armário do quarto,às suas velhas camisas pólo...

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Expressão




Tamanho era o desespero
Que lhe tremiam as pernas
A própria mão tocava o sexo o
Seio e a solidão;

Sozinha, conhecedora de seu intimo
Deitava-se na mesa, no sofá
Imaginava-se a fruir de si mesma
A arranhar o próprio seio
E a amar-se no chão.

e tentava-se,
mirava-se;
na boca dela o próprio beijo
obcecada por observar o próprio gesto
ansiosa em sentir o próprio sexo.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Doce Lembrança

Ando querendo fugir!
De sumir e me perder de ti.
Que posso, além disso, fazer?
Se não me entendes por entre as linhas das sílabas que te digo
E te grito por sobre os telhados.
Juro ter tentando intermináveis vezes trazer som ou letra ao que sinto.
Nem mesmo abriste as cartas que lhe enviei...
Não ouviste nada do que, exausta, faço ecoar na minha voz!
Juro ser esta a ultima vez... Farei desse, meu ultimo cantar à lembrança
Do antigo amor;

O que escrevi aqui você jamais ouvirá sair da minha garganta...
Pois sinto que as lágrimas, amigas do amor romântico - aquele irrealizável -
Insistem em saltar dos meus olhos, já felizes por outro cantar:

A ti jurei eterno amor e eterno cantar
Jurei dar-lhe minha vida
Estender-lhe a mão
Esquentar-lhe nas noites gélidas de tristeza
E nas do choramingo do luar.
Não posso, porém cumprir tal jura
Na plenitude do que, naqueles tempos, sonhei.
Meu sentir por você, amor, transformou-se numa coisa
Qual a ternura e o prazer das doces lembranças da velha infância.
Ainda tens meu coração
Mas não ousarei dá-lo outra vez.
Pois te amo da mesma forma que um cancioneiro ama uma senil canção de amor.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Culpa




No meu peito fez morada à dor


Que sobe a cabeça e que traz aos olhos a gota.


A lágrima.


No engolir da saliva me desce uma faca ou um pedaço partido de vidro que me estraçalha a garganta!


Vem de onde tão descomunal emoção? Que engloba todos os sistemas, tecidos e nervos... É decorrente de quê lesão?



Vêm do dolo semi-inconsciente que se transformou de súbito em terror.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Varanda da Fazenda


Deitado na rede,
senti o sopro d’uma brisa leve e ouvi
o acorde primeiro dum violão.
Era Deus ou era Ela?
Aspirei o aroma, quente e amadeirado, que subia, e aquecia minhas narinas, daquele copo de café.
No silencio que me tomou seguia-se a canção...
Melodia leve... Lenta que me lembrava os tempos da mocidade.
Passado belo: pai e mãe vivos, violão afinado, casa cheia de amigos e uma moça á espera no portão.
E na lembrança nostálgica que me tomou seguia-se a canção...
Era Deus ou era Ela?
Não sei...
Era tão linda a serenata que Ela ou Deus tocava e invadia
Por um instante do tempo, naquele envolver da melodia
me esqueci da ausência Dela.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Mulher



No cruzar das pernas,
No olhar de lado.
O balançar do cabelo
E o lábio molhado.
Era tudo da arte do feitiço ensaiado.

No calor dos olhares fugazes que lançava
Eram inúmeros os que a imaginavam
A zanzar nua abaixo do sol, acima da lua.
Eram também muitos os que se sentiam
Á estar possuindo sem possuí-la.

Meia calça bicolor ou multi colorida de cor.
Num vestido remendado. No batom avermelhado.





Na casa de espelhos se olhava
Sorria e espalhava os seus sorrisos.
Profusa de graça feminil parecia estar presa àquele salão
De disfarces onde as suas mil faces ocultavam verdades.

E com aqueles olhos ganhados pelo diabo
Ela fazia com que todos Eles se deixassem levar por sua graça e disfarces
Fizessem todas as vontades, e se imaginassem em se perder em sua pele e vestido.

sábado, 22 de agosto de 2009

Lembrança Invertida


Na hora do crepúsculo, uma estrela negra no céu
Orbitando sombria no azul escurecido, semi-translúcida
Lá do alto parecia fitar-me
Parecia guiar-me,
Prender-me.
Tinha um brilho supino que cegava
Era opaca e surpreendia.
Era uma intrusa, perturbava.
Tão contraria a si... Fatigava-me.
Punha-me cheia de dúvidas,
Perplexamente ligada á sua natureza.
Imitava a lua, objeto sublime de minha infindável obsessão.
Lá estava eu, aflita, pensando antíteses!
Registrando-as propositadamente.
Mas como, se não através delas, poderia expressar minhas incansáveis confusões?
Olhava para ela deitada dum leito denso e flebilmente buscava,
naquela hora crepuscular, um espaço que me abrigasse do meu frio.
Sob uma forma fixa, assustadoramente fixa, de poder
Eu sentia seu perfume, sua cor, sua forma e seu movimento.
Soava um som, semelhante a um sino, que vinha do céu e dava um riso de escárnio
Que não sei por que submetia a uma dor excruciante a minha alma.
Mas quando, Àqueles teus olhos negros eu imitava,
Penetrava em completa letargia... Mal sabia o que falava, mal sabia o que sentia.
Em relação Àquela estrela inexplicável, que me punha em torpor e em encanto
E que na alva dos dias transformava-se em lembrança confusa que convidava e invertia.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Gama


No tempo de menina era exacerbada a pudicícia.
O tempo, como de costume, passou.

A metamorfose transformou a fêmea miúda em púbere mulher.
Seu corpo tornou-se pulcro: um convite profano.

Saída do banho, com sua pele macia molhada, mirava-se no espelho admirando seu conspícuo corpo nu.
Em seu pêlo estampava-se o ardente despertar do desejo e o inevitável abandonar do pejo.
Em delírios imaginava-se em meio à relva, ao lado dum macho robusto.
Ela flertava, ele avançava, ela ficava por baixo. o tocava, o beijava e mordia.
Ele a prensava na grama e ela se rendia.
Se agarrava nele no estuar dos prazeres.
Nas primícias do sexo, calava e tremia.
Depois se agitava convulsivamente e ofegava, pedia.
Ele permitia.
Logo a fêmea púbere incitava nele o que ela sentia. O cheirava, o sugava e lambia.
Com primor seguia-se a relação.
A mata ouvia os gemidos sôfregos de seu pungente arreganhar as pernas e da hábil maneira como ele a preenchia.
Eram inúmeras as maneiras como se encaixavam e se permitiam.
Numa junção profunda em que o corpo cansado ainda gozava e ainda queria.
Por fim, da sua carne insaciada, com evulsão ele tirava, o delírio acabava, ia embora e não se despedia

Amor Carrasco


Gosto de carne finada,
Nos beiços o sabor do sangue.
No peito, arfando, a frialdade da vingança:
Mordida, devorada a musa de sua desgraça.
Coitada? Ingrata! Rameira!
- Matei-a, pois, e morri com ela. Provei do teu sabor, do teu veneno.
Ferida pela mão amada, mortificada pela traição do algoz?
De certo que não.
Inumana desejada, não fora amante, fora atroz!

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Instinto Inato


No calor dos corpos deitados
A lascívia aliciadora de fêmea;
A virilidade mordente do macho;
Encharcados de suor que se alastra em volúpia.
Do sussurro surge o gemido.
Do ardor misto em vertigem,
A alucinação de latente tesura.
Do feitiço de fundir-se a nudez mutua,
O fascínio que os invade de eretismo.
Da atração orgástica e animal que enche de ardente
Paixão e deleites, a necessidade sublime da carne.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009







Vim, antes nata
Desconfiada.
De olhos oblíquos e malcriados
Que recebi.
Entre a bondade e o interesse
Envolta em gracejos e desencanto,
Criei-me.
Meu apreço foi ofertado
Á esplendores lancinantes.
Habito ambientes místicos,
Numa quimera deslumbrante,
Num passo a passo de insanidades.
Entreguei-me a manias que me fazem pronunciar:
- Sou bruta, sou forte, sou raça;
-Sou fome, sou fraca, sou murcha.

quinta-feira, 23 de julho de 2009




Pela manha o sol acorda o meu desejo
Acordo, não te vejo, cobiço.
Espero que anoiteça, pois me enamoro tanto de ti quanto da lua.

Gelados como a noite são meus dedos
Que ansiosos por calor se esquentam no teu corpo;
Gelados como os meus, são os seus dedos
Que suaves passeiam pelo meu dorso.
Arrepio-me no frio e no gozo.
Seus lábios quentes por entre meus seios
Arrepiam-me de luxúria e vigor.

Teu sexo exige o meu sexo, e o meu corpo o teu.
O meu sorrir é como máscara para meu disfarce ambíguo de querer e não querer.

Em estímulos seguimos juntos na nossa trilha clandestina,
Num fatal caminho de temor e anseio que se abasta entre a aspiração e o medo.


quarta-feira, 15 de julho de 2009

ENTREGA


Correndo atrás do vento
Com suas mãos gélidas de noite.
A espera dos moribundos e doentes
Buscando tomá-los para si.
Quer abraçar também aqueles que não a aguardam,
Irmãos de homens, filhos de mães.
Então os beija com seus lábios sutis
Libertando suas almas, aprisionando-os no inseguro.
Cárcere de onde nunca voltam?
Se voltam, não se sabe.
Logo restam somente seus corpos, bens,
Amores.
Almas que não a buscam sempre
Em magoas e infortúnios,
Buscam beijá-la.
Flertam com ela querendo sentir seu inverno.
Deixar com que todo seu calor se esvaia.
Abandonar sonhos e afetos.
Ir de encontro ao impensável e tão provável,
Á seu sedutor acaso.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Aborto


Quente e arde.
Liquido espesso, vermelho
Que escorre minha vida e minha fúria.
Em meu ventre de mulher,
Falece
Meu milagre maior da natureza.
Agora, louca de tristeza e saudades,
Daquilo que não fui capaz de conhecer.
Em meio á sentidos confundidos, aturdidos,
Choro e clamo.
Nem fé, nem esperança contenho
Questiono-me;
-Será que, depois que te desapegastes , era eu quando passastes por mim?
Apenas paro e fico
Esperando o sono chegar e te trazer.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Amar e Anoitecer



Imagina
Hoje à noite a gente se perder?
Ver o luar refletido na calçada
Numa vontade imensa de amar e anoitecer


Imagina
Hoje à noite a gente se fundir?
Perdidos na madrugada
Sonâmbulos, insones, insanos
Despidos na rua
Perdendo o juízo em explícitos gestos de amor

Imagina
Hoje a noite ver o dia nascer?
Extasiados em muito prazer e
Ver
Voando, dois anjos.
Carregam-nos pelas mãos a um abrigo celestial
Onde no entregaremos um ao outro e ao nosso entardecer
Numa vontade imensa de ficar e não pensar em nada.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Dedicatória

Numa aventura alucinante
Conheci impérios extintos e cidades feudais.
Conheci também do Zodíaco, um cavaleiro galante
Contador de historias, narrador de guerras tribais.

O cavaleiro do Zodíaco com seu dom arrebatador
Olhava para o céu e previa futuros astrais.

Lutou ao lado de infantes
Contra dragões e outros monstros gigantes,
Com o auxilio de exércitos reais;

Com desenvoltura conquistou musas e ninfas gregas,
Despertava em todas elas afetos e necessidades carnais.

Ensinou-me que é preciso confiar nos astros e na vida,
Firmeza para triunfar em tempos de guerra,
Crer no instinto da alma para ter sorte
E talento para governar o próprio acaso.

Jovem astuto e curioso
Exaltado em sua eterna arte de ser sagaz.

Pobre Caricato



Distante do teu abraço sou um desgraçado sem vida.
É tão atro o meu destino fora da sua presença!
Perto de ti sinto o corpo em áscua e a alma viva.
Airosa amada! Esse meu anseio por ti é nato, nada efêmero!
Suplico não o vosso amor, compaixão apenas.
Por esse pobre desditoso, teu servo, teu capacho.
Escravo do teu olhar de cetim e dos teus lábios de mel.
Nesse discurso caricato, suplico ó Senhora minha, teu afeto,
Teu afago.

domingo, 28 de junho de 2009

Votos




Serás meu Zeus e serei eu tua ninfa.
Serás minha alma e serei teu corpo.
Que nele possas morar e em tua boca, more a minha.
Serás meu escudo e em ti me esconderei.
Que eu seja a relva e tu sejas a chuva.
Que na relva tu se deites e que a chuva me envolva.
Que eu seja tua e que tu sejas meu.
Que sejamos um só e onde quer que estejamos,
Que tu sejas o Sol e eu, tua Lua.

domingo, 21 de junho de 2009

Súplica



Peço aos astros
Que tirem de minhas costas
Meu árduo fardo.
Um peso em sobrecarga.
Levo-o junto a mim assim arrastada,
Morta em vida.
O tenho em solidão.
Solidão que vem na madrugada.
Nesses momentos
Mutilada de dor,
Clamo á luz,
Ao fim da madrugada.
E é ao Sol que peço ajuda.
Sua morada.
Peço aos astros
Simbólica compaixão.
Ela vem e me consola.
Certamente quando vem a noite, passa.
Novamente me sinto frustrada.
Volta à desilusão,
Mas quando nasce de fronte á mim, o dia
Posso novamente
Respirar descansada.
Obrigada, ó astros!
Por sua boa morada.

sábado, 20 de junho de 2009

***




Chamou-me, pois, dizendo-me:
-Venha a mim formosa dama!
Levantei-me logo que ouvi o chamado.
Correndo tal como fosse fugindo da morte
Atirei-me em sua voz.
Busquei em vão pelos teus braços aos quais não encontrei;
Jurei sentir a presença firme de meu amado.
Meu fantasma aveludado. Assombrava-me pois, todas as noites
Acordando-me noite após outra.
Sempre que me caiam as pálpebras, lá estava ele: o espectro de meu deslumbramento.
Quando envolta em sonolência branda, a imaginar Sombras rondando-me, perguntava á elas em rota de quase súplica:
-Vistes aquele a quem ama a minha alma? Vistes a fumaça que me enevoa?
E com frívolos sorrisos, rasgando-as em face, alegremente me diziam:
- Seu diabo partiu! Partiu até mesmo de teus sonhos!
Maldita voz que me assombra! Pudera eu imaginar-te. Ver-te mesmo que em nevoa!
Estou entregue por inteiro ao teu presságio.
-Oh musas imploro: antes que caia sobre o Sol a sombra, partam-me em duas metades.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Impressão




Ouvi teu saudar ao prazer
Liames nossos: eu Vênus, tu Dionísio.

Ponho-me a confessar em poesias instintivas...
Não me questiones! Nem tão pouco me investigues...
Momentos.
-Casticismo amoroso?
Momentos.
- Desregramento de sentidos?

Queres mesmo que eu te diga
Meu notar quando te vejo?
Amor de sobra tenho por ti
E de modo mesmo, me unha o desejo
.

Desigual

Tenho pressa, mas não sei para onde a vida me leva.
Dei a volta ao mundo e num segundo:
Vi a miséria dos pobres
Perdidos entre becos fétidos.
Vi os ricos
E seu sangue mesquinho espalhado por todo lado.
Vi felicidade e vi abandono.
Vi esperança e num segundo,
Ela os abandonou.
Tenho tempo, mas não sei aonde vou.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Dependência



Dê-me uma chance a mais
De provar-te o muito que lhe quero bem?
Seja meu?
Posso ser sua.
Se me queres te quero muito mais.
Coloco-me aqui a sua disposição.
Não de corpo todo, mas de alma inteira.
A rendição não provoca em mim comprazo nenhum.
A chance de tê-la, porém alegra por completo meu espírito.
Quem sabe nessa doação eu a tenha.
Nem só de amor vive o homem,
Mas sem ele, de certo não se vive feliz.
Nem só do teu amor viverei,
Mas de certo, sem ele, a vida pássara...
Esfriaram meu espírito e alma
A vida pássara.
E meu corpo padecerá, sem vida,
Da falta que você me faz.

Ilusão



Seu sorriso fez meu mundo desandar
Meus olhos se perderam em você, ao te encontrar.
Todas minhas crenças e expectativas pareciam tolas.
Estar ao seu lado era a única possibilidade de futuro.
Pus naquele sorriso toda minha fé,
Toda minha esperança.
Parecia não existir nada no mundo alem do seu olhar.
Era um sonho surreal, mas que naqueles instantes, parecia adequado, perfeito.
Mas você passou.
Ao piscar os olhos, toda minha idealização e planos
Desmancharam-se e rindo de mim mesma, respirei.
Despertei de um sonho que sonhei acordada.
Era tudo tão irreal, tão absurdo.
Como pude sonhar!
Será que acordei?

terça-feira, 16 de junho de 2009

Nau


Velejando entre um caminho de pedras,
Acima da neblina,
Ouvimos som de céu caindo.
Ouvimos o som da ventania.
Lá ao longe as luzes da cidade escancarada
Levavam-nos a fitá-la com olhos de miúdo alucinado.
Sua claridade parecia zombar-nos.
Parvos nautas desesperançados, inertes em meio à cerração.
Estancados! Desonrados!
Temendo algum mal ignoto que nos arrastasse além-mundo.
Não era covardia, nem mesmo dogmatismo baldado,
Era a fraqueza do homem que luta contra os temores mais profundos da alma de si.
Ao mirar ao redor: água.
Dentro da nau: choro
Choro de homem ferido de orgulho
Ferido de si.
Ferido, desci a água
De temores, morri.

Desejo



Ansiava por sentir sua boca
Em meus olhos suados.
Que me puxasses por meus cabelos desarrumados.
Que eu beijasse
Seus braços molhados
E que exaltados de amor
Amassemos-nos, apenas, um pouco mais.
Que nossas veleidades se somassem.
Que nossos defeitos fossem, somente, risíveis.
Que a simplicidade do amor nos bastasse,
O que de fato,
Já basta.

...




Como posso te prender a mim se eu não existo mais?
A parte de mim que te agrada se deitou numa noite e no outro dia
Não levantou mais.
Meus olhos agora são fendas
Dentro de mim só habita o nada
Vivo agora de momentos de lucidez
Momentos que finjo, que invento
Momentos que enganam os outros, mas não me enganam
Às vezes penso na morte, às vezes penso que da vida, ela nada se difere
Às vezes quero que me matem e em outros sei...
Já me mataram.
Sou tal a uma sombra que atormenta aos outros
Sou a criatura sem senhor
Sou o monstro que ninguém criou
Criei-me sozinho.
Momentos que finjo momentos que invento
Digo apenas não querer sê-lo mais
Digo apenas não ser
Ao mesmo tempo em que sou sem querer.

Sentimento em lira


Queria um abraço sem perguntas.
Ser entendida sem ter que me explicar.
Perdi o controle de coisas tantas.
Meu descontrole vem, a cada dia, me sufocar.
São tantos os conflitos e tantas as crises,
Que sonhos, amores e amigos...
Não...
Não posso continuar.
A depressão substitui minha alegria
E meu rosto estampa desesperança.

A chuva ouviu meu grito.
O céu já vem me socorrer
E a lágrima que desce em minha face
Dele também vi descer.

Suposta Finalidade


A finalidade desse blog seria a de exteriorizar meus pensamentos, sentimentos e etc. Supostamente. Mas não só essa.

Seria de alguma maneira, dizendo sinceramente, a expressão de minha infinita busca e ânsia em perdurar...Vaidade? Provavelmente.

Perdoo aqueles que me julguem estúpida, arrogante ou narcisa - em parte têm razão.

Falível, humana...

Somente espero, humildemente, que vocês, leitores, donos e espectadores de minha poesia, não que gostem ou admirem, que apenas leiam meus versos um tanto quanto... imprecisos.