Estava andando na calçada bem ao lado de cerca de 30 automotores; carros, motos e ônibus lotados.
Eram 02h27min p.m e, de acordo com Aurélio Buarque de Holanda Ferreiro – 4°Edição, Editora Nova Fronteira, Revista e Ampliada do Minidicionário Aurélio – os motoristas observavam vigilantes a sinaleira –“poste de sinalização rodoviária ou ferroviária; para orientação do trafego” – que, no momento, exibia a elétrica luz vermelha, sussurrando um não silencioso em meio aos sons da cidade.
Distraidamente, passando ao lado dos veículos forçadamente imóveis, desacelerei o passo e passei a observar um casal numa motocicleta ali ao lado: quem conduzia era o homem, um baixinho com longo bigode acobreado e, sentada com as mãos envoltas em sua cintura, ia uma mulher loura, com os cabelos escorridos dando no meio das costas.
O baixinho olhava o retrovisor e a mulher fixava os olhos no semáforo avidamente.
A essa altura eu dava olhadelas de lado pra vê-los, pois, mesmo em meu passo lento, eu já avançara deixando-os às minhas costas. Foi ai que notei: o homem da motocicleta olhava do retrovisor da sua Titan 125 cc na minha direção e quando nossos olhos se cruzaram naquela curiosidade mutua, notei certo iluminamento em seu rosto e ele se virou cutucando a mulher loura apontando na minha direção ao mesmo tempo em que sibilava algo que eu não pude entender.
Ela então se virou, sem descer da moto e me acenou, sorrindo, enquanto ele chamava meu nome e buzinava.
Sem muita reação, observei outros automóveis começarem a buzinar simultaneamente – um espaçoso Opala Comodoro ano 86 acabara de fechar o cruzamento.
Ao embalo do barulho do trafego, o sonoro hino ensurdecedor da cidade de Belo Horizonte, acenei de volta sem reconhecer o simpático casal.
A essa altura o semáforo se abrira, o Opala desimpedira a passagem e o fluir dos transportes. A motocicleta já se perdera no caos de automóveis e eu, ainda estagnada fiquei ali...
“Mais um dia os automóveis, as pessoaspassam por mimFaces num movimento de vidaHistória vividas na pressaPercorre os hábitos do dia a diaA chuva caimolhando um rosto já molhadomais um dia...” (Patrícia Menezes)