terça-feira, 25 de agosto de 2009

Mulher



No cruzar das pernas,
No olhar de lado.
O balançar do cabelo
E o lábio molhado.
Era tudo da arte do feitiço ensaiado.

No calor dos olhares fugazes que lançava
Eram inúmeros os que a imaginavam
A zanzar nua abaixo do sol, acima da lua.
Eram também muitos os que se sentiam
Á estar possuindo sem possuí-la.

Meia calça bicolor ou multi colorida de cor.
Num vestido remendado. No batom avermelhado.





Na casa de espelhos se olhava
Sorria e espalhava os seus sorrisos.
Profusa de graça feminil parecia estar presa àquele salão
De disfarces onde as suas mil faces ocultavam verdades.

E com aqueles olhos ganhados pelo diabo
Ela fazia com que todos Eles se deixassem levar por sua graça e disfarces
Fizessem todas as vontades, e se imaginassem em se perder em sua pele e vestido.

sábado, 22 de agosto de 2009

Lembrança Invertida


Na hora do crepúsculo, uma estrela negra no céu
Orbitando sombria no azul escurecido, semi-translúcida
Lá do alto parecia fitar-me
Parecia guiar-me,
Prender-me.
Tinha um brilho supino que cegava
Era opaca e surpreendia.
Era uma intrusa, perturbava.
Tão contraria a si... Fatigava-me.
Punha-me cheia de dúvidas,
Perplexamente ligada á sua natureza.
Imitava a lua, objeto sublime de minha infindável obsessão.
Lá estava eu, aflita, pensando antíteses!
Registrando-as propositadamente.
Mas como, se não através delas, poderia expressar minhas incansáveis confusões?
Olhava para ela deitada dum leito denso e flebilmente buscava,
naquela hora crepuscular, um espaço que me abrigasse do meu frio.
Sob uma forma fixa, assustadoramente fixa, de poder
Eu sentia seu perfume, sua cor, sua forma e seu movimento.
Soava um som, semelhante a um sino, que vinha do céu e dava um riso de escárnio
Que não sei por que submetia a uma dor excruciante a minha alma.
Mas quando, Àqueles teus olhos negros eu imitava,
Penetrava em completa letargia... Mal sabia o que falava, mal sabia o que sentia.
Em relação Àquela estrela inexplicável, que me punha em torpor e em encanto
E que na alva dos dias transformava-se em lembrança confusa que convidava e invertia.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Gama


No tempo de menina era exacerbada a pudicícia.
O tempo, como de costume, passou.

A metamorfose transformou a fêmea miúda em púbere mulher.
Seu corpo tornou-se pulcro: um convite profano.

Saída do banho, com sua pele macia molhada, mirava-se no espelho admirando seu conspícuo corpo nu.
Em seu pêlo estampava-se o ardente despertar do desejo e o inevitável abandonar do pejo.
Em delírios imaginava-se em meio à relva, ao lado dum macho robusto.
Ela flertava, ele avançava, ela ficava por baixo. o tocava, o beijava e mordia.
Ele a prensava na grama e ela se rendia.
Se agarrava nele no estuar dos prazeres.
Nas primícias do sexo, calava e tremia.
Depois se agitava convulsivamente e ofegava, pedia.
Ele permitia.
Logo a fêmea púbere incitava nele o que ela sentia. O cheirava, o sugava e lambia.
Com primor seguia-se a relação.
A mata ouvia os gemidos sôfregos de seu pungente arreganhar as pernas e da hábil maneira como ele a preenchia.
Eram inúmeras as maneiras como se encaixavam e se permitiam.
Numa junção profunda em que o corpo cansado ainda gozava e ainda queria.
Por fim, da sua carne insaciada, com evulsão ele tirava, o delírio acabava, ia embora e não se despedia

Amor Carrasco


Gosto de carne finada,
Nos beiços o sabor do sangue.
No peito, arfando, a frialdade da vingança:
Mordida, devorada a musa de sua desgraça.
Coitada? Ingrata! Rameira!
- Matei-a, pois, e morri com ela. Provei do teu sabor, do teu veneno.
Ferida pela mão amada, mortificada pela traição do algoz?
De certo que não.
Inumana desejada, não fora amante, fora atroz!

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Instinto Inato


No calor dos corpos deitados
A lascívia aliciadora de fêmea;
A virilidade mordente do macho;
Encharcados de suor que se alastra em volúpia.
Do sussurro surge o gemido.
Do ardor misto em vertigem,
A alucinação de latente tesura.
Do feitiço de fundir-se a nudez mutua,
O fascínio que os invade de eretismo.
Da atração orgástica e animal que enche de ardente
Paixão e deleites, a necessidade sublime da carne.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009







Vim, antes nata
Desconfiada.
De olhos oblíquos e malcriados
Que recebi.
Entre a bondade e o interesse
Envolta em gracejos e desencanto,
Criei-me.
Meu apreço foi ofertado
Á esplendores lancinantes.
Habito ambientes místicos,
Numa quimera deslumbrante,
Num passo a passo de insanidades.
Entreguei-me a manias que me fazem pronunciar:
- Sou bruta, sou forte, sou raça;
-Sou fome, sou fraca, sou murcha.